Sem palas laterais:
Um grande número de socialistas,
continuam a praticar uma alô-redencao, imposta ao mundo ocidental, por mitos religiosos,
que estão a ruir como castelos de cartas, avizinhando-se-lhe o fim a muito
curto prazo.
O ruir desses mitos, deve-se
ao facto de terem sido incapazes, de pedirem perdão ao mundo pelos crimes
cometidos, e ao mesmo tempo silenciar, todos aqueles que no seu seio, apontavam
caminhos diferentes. Os exemplos são muitos, mas devido ao espaço, vamos
referir dois.
1 – O papa João XXIII,
preconizou através do Vaticano II, uma viragem, uma inversão total dos caminhos
seguidos, onde constava a substituição da alo-redenção, por uma Auto-Redenção. A
última significa, erraste, arrepende-te aqui e agora, e não voltes a errar. A primeira
significa, erraste, pagas o dízimo aos intermediários de Deus na terra, e, ele
passa uma esponja. Com a morte prematura do Papa, o Vaticano II, passou a ser
letra morta, ao ponto de se recuar trezentos anos no tempo, ao concílio de
Trento, para se elaborar o catecismo da Igreja. As velhas arvores prevaleceram, nem a igreja,
nem os seus crentes se renovaram.
2 – O Papa João Paulo I, foi
escolhido pelo seu aparente falta de carisma, por considerarem que seria
facilmente manipulável. Mas, como depois de colocado no poder, lhes demonstrou
que sabia o que queria, não perderam tempo, 33 dias depois acabaram-lhe com a
vida.
Estes exemplos, quer queiram
ou não, aplicam-se ao partido socialista. O partido socialista, se quer
reconquistar a confiança dos portugueses, tem que lhes demonstrar de forma visível,
que cortou com o passado. Que quer o poder, para servir os portugueses de forma
equitativa, e não para servir os seus líderes. Tem de praticar uma Auto-Redenção,
assumindo os erros e renovando-se de dentro para fora.
Os socialistas tem de
enfrentar a verdade, por muito que lhes custe, por muito que lhes doa. Uma vez
que essa verdade é terrivelmente amarga. Nestas páginas, há cultos extraordinariamente
ridículos, a figuras, que são de topo, pela negativa. Que ao contrário do que
muitos pensam, prestaram um mau serviço, ao P S e aos portugueses, uma vez que participaram
e estiveram na origem do capitalismo selvagem que se instalou em Portugal. Neste
ponto, vou postar um comentário da Ana Gralheiro, que subscrevo integralmente,
uma vez que conheço as matérias e também o podia ter escrito.
De Ana Gralheiro:
A
LUCIDEZ DE MÁRIO SOARES...
A lucidez, uma das suas maiores qualidades
durante uma longa carreira politica. A lucidez que lhe permitiu escapar à PIDE
e passar um bom par de anos, num exílio dourado, em hotéis de luxo de Pari
A lucidez que lhe permitiu conduzir da forma
"brilhante" que se viu o processo de descolonização.
A lucidez que lhe permitiu conseguir que os
Estados Unidos financiassem o PS durante os primeiros anos da Democracia.
A lucidez que o fez meter o socialismo na gaveta
durante a sua experiência governativa.
A lucidez que lhe permitiu tratar da forma
despudorada amigos como Jaime Serra, Salgado Zenha, Manuel Alegre e tantos
outros.
A lucidez que lhe permitiu governar sem ler os
"dossiers"..
A lucidez que lhe permitiu não voltar a ser
primeiro-ministro depois de tão fantástico desempenho no cargo.
A lucidez que lhe permitiu pôr-se a jeito para
ser agredido na Marinha Grande e, dessa forma, vitimizar-se aos olhos da
opinião pública e vencer as eleições presidenciais.
A lucidez que lhe permitiu, após a vitória
nessas eleições, fundar um grupo empresarial, a Emaudio, com "testas de
ferro" no comando e um conjunto de negócios obscuros que envolveram
grandes magnatas internacionais.
A lucidez que lhe permitiu utilizar a Emaudio
para financiar a sua segunda campanha presidencial.
A lucidez que lhe permitiu nomear para
Governador de Macau Carlos Melancia, um dos homens da Emaudio.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume ao
caso Emaudio e ao caso Aeroporto de Macau e, ao mesmo tempo, dar os primeiros
passos para uma Fundação na sua fase pós-presidencial.
A lucidez que lhe permitiu ler o livro de Rui
Mateus, "Contos Proibidos", que contava tudo sobre a Emaudio, e ter a
sorte de esse mesmo livro, depois de esgotado, jamais voltar a ser publicado.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume as
"ligações perigosas" com Angola, ligações essas que quase lhe
roubaram o filho no célebre acidente de avião na Jamba (avião esse
transportando de diamantes, no dizer do então Ministro da Comunicação Social de
Angola).
A lucidez que lhe permitiu, durante a sua
passagem por Belém, visitar
57 países ("record" absoluto para a
Espanha - 24 vezes - e França -21), num total equivalente a 22 voltas ao mundo
(mais de 992 mil quilómetros).
A lucidez que lhe permitiu visitar as
Seychelles, esse território de grande importância estratégica para Portugal,
aproveitando para dar uma voltinha de tartaruga.
A lucidez que lhe permitiu, no final destas
viagens, levar para a Casa-Museu João Soares uma grande parte dos valiosos
presentes oferecidos oficialmente ao Presidente da Republica Portuguesa.
A lucidez que lhe permitiu guardar esses
presentes numa caixa-forte blindada daquela Casa, em vez de os guardar no Museu
da Presidência da Republica.
A lucidez que lhe permite, ainda hoje, ter 24
horas por dia de vigilância paga pelo Estado nas suas casas de Nafarros, Vau e
Campo Grande.
A lucidez que lhe permitiu, abandonada a
Presidência da Republica, constituir a Fundação Mário Soares. Uma fundação de
Direito privado, que, vivendo à custa de subsídios do Estado, tem apenas como
única função visível ser depósito de documentos valiosos de Mário Soares. Os
mesmos que, se são valiosos, deviam estar na Torre do Tombo.
A lucidez que lhe permitiu construir o
edifício-sede da Fundação violando o PDM de Lisboa, segundo um relatório do
IGAT, que decretou a nulidade da licença de obras.
A lucidez que lhe permitiu conseguir que o
processo das velhas construções que ali existiam e que se encontrava no Arquivo
Municipal fosse requisitado pelo filho e que acabasse por desaparecer
convenientemente num incêndio dos Paços do Concelho.
A lucidez que lhe permitiu receber do Estado, ao
longo dos últimos anos, donativos e subsídios superiores a um milhão de contos.
A lucidez que lhe permitiu receber, entre os
vários subsídios, um de quinhentos mil contos, do Governo Guterres, para a
criação de um auditório, uma biblioteca e um arquivo num edifico cedido pela
Câmara de Lisboa.
A lucidez que lhe permitiu receber, entre 1995 e
2005, uma subvenção anual da Câmara Municipal de Lisboa, na qual o seu filho
era Vereador e Presidente.
A lucidez que lhe permitiu que o Estado lhe
arrendasse e lhe pagasse um gabinete, a que tinha direito como ex-presidente da
República, na... Fundação Mário Soares.
A lucidez que lhe permite que, ainda hoje, a
Fundação Mário Soares receba quase 4 mil euros mensais da Câmara Municipal de
Leiria.
A lucidez que lhe permitiu fazer obras no
Colégio Moderno, propriedade da família, sem licença municipal, numa altura em
que o Presidente era... João Soares.
A lucidez que lhe permitiu silenciar, através de
pressões sobre o diretor do "Público", José Manuel Fernandes, a
investigação jornalística que José António Cerejo começara a publicar sobre o
tema.
A lucidez que lhe permitiu candidatar-se a
Presidente do Parlamento Europeu e chamar dona de casa, durante a campanha, à
vencedora Nicole Fontaine.
A lucidez que lhe permitiu considerar José
Sócrates "o pior do guterrismo" e ignorar hoje em dia tal frase como
se nada fosse.
A lucidez que lhe permitiu passar por cima de um
amigo, Manuel Alegre, para concorrer às eleições presidenciais mais uma vez.
A lucidez que lhe permitiu, então, fazer mais um
frete ao Partido Socialista.
A lucidez que lhe permitiu ler os artigos
"O Polvo" de Joaquim Vieira na "Grande Reportagem",
baseados no livro de Rui Mateus, e assistir, logo a seguir, ao despedimento do
jornalista e ao fim da revista.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume
depois de apelar ao voto no filho, em pleno dia de eleições, nas últimas
Autárquicas.
No final de uma vida de lucidez, o que resta a
Mário Soares? Resta um punhado de momentos em que a lucidez vem e vai. Vem e
vai. Vem e vai.
Vai.... e não volta mais.
Para
que o partido socialista assuma as suas linhas pragmáticas, de humildade,
frontalidade e liberdade, em fraternidade, e as torne visíveis aos olhos dos
portugueses, tem que se renovar e assumir os erros do passado.
A
verdade dói, não vos queria magoar, mas é necessário para que as coisas mudem.
Esta em causa o bem dos portugueses.
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