RACIONALISMO
A razão
do latim “ratio”, é a faculdade de discorrer. E o raciocínio define-se como um
ato do entendimento pelo qual se chega a verdades novas a partir de, pelo menos
duas verdades, conhecidas .É a proposição onde as causas se encadeiam com os
efeitos, os quais por sua vez são causas de outros efeitos posteriores.
Este
mecanismo mental, que se aparenta ao silogismo grego tem, no entanto, raízes
mais profundas, e tanto na China como na Índia existiram escolas de lógica,
pelo menos desde os finais do 2º milênio a.C. As ultimas investigações
demonstram que sem a aplicação de princípios lógicos na teoria das projeções,
seria impossível a resolução ergonômica em construções tão exatas como as
Pirâmides, que datam, no mínimo, do 4º milênio a C.
O
racionalismo nasceu da pretensão de que só a razão pode interpretar a
realidade.
O homem
tem tantos acessos à realidade como planos na sua complexa constituição, dar
prioridade a um dos mesmos é, por outro de lado diminuir a capacidade de
intuição e da experiência. É um afastamento antropocêntrico da natureza física
e metafísica. Procurando a realidade, o homem afasta-se do ecossistema do
universo, caminha inexoravelmente para a solidão e para o sofisma de
identificar o pensamento com a existência.
O racionalismo
exagerado começou com Aristóteles na corporização das idéias e rebentou
com Descartes, que se apoiou na dúvida e circunscreveu a racionalidade do mundo
a leis de sucessão mecânica, excluindo toda a finalidade universal, negando
princípios Platônicos. Malebranche, Spinoza, Leibniz, Wolff, Hobbes, Berkeley
e Hume matizam de formas diferentes estes assertos.
Kant faz
reaparecer o metafísico, embora sobre aspetos gnoseológicas que criticam a
razão pura e a razão suficiente. Hegel fez entrar o irracional como forma
de racionalidade da realidade.
As linhas
mestras do pensamento humano diluem-se.
A
complexa e cândida atitude de Tomás de Aquino, que torna a razão serva da
religião por ele defendida, numa intuição de elementos que poderiam estar mais
além da compreensão humana, afunda-se velozmente.
O homem
desintegra o homem.
Esta
síntese, tem por finalidade deixarmos no ar a seguinte pergunta?.. O que é que
se passou para que o materialismo mecanicista toma-se de assalto a consciência
do homem ocidental, levando-o de um ecossistema de um mundo clássico
balanceado, a outro acossado por angustias, incredulidades, vaidades e utopias,
que refletindo-se nos povos, os precipitam no ateísmo e no materialismo mais
digno de Bestas que de humanos?
Como é
que, em nome da razão e do razoável, se caiu na loucura de um instinto
desformado por subtilezas que a degeneraram.
É um tema
demasiado profundo para uma síntese como esta. Mas podemos dizer,
sinteticamente, que a queda do mundo clássico foi muito mais importante do que
supõem os historiadores.
É
aterrorizante, verificar que no século V, se destruíram edifícios de
sabedoria, para em cima deles se construírem outros sem alicerces, sem
bases.
São
sementes da loucura.
E essa
loucura ramificou-se, destruindo beleza e sabedoria, que teria tido perda total
se os Árabes não tivessem vivido em zonas marginais ao antigo império romano,
guardando alguns elementos, assim como o fizeram ordens cristãs de
cavalaria, que viviam isoladas em mosteiros.
Proíbe-se
sob a pena de morte o estudo dos astros, da anatomia humana, da circulação do
sangue e da óptica.
Confrarias
de loucos enraivecidos, desde os “fraticelli “ até aos “iconoclastas “
percorrem a Europa.
O
Renascimento vê-se manchado pelas lutas sectárias da Reforma e da Contra –
Reforma. A imprensa é considerada oficialmente diabólica; Galileu teve
que negar a rotação da terra para salvar a vida, Giordano Bruno,
depois de anos de torturas foi queimado vivo numa praça de venda de flores
em Roma.
A anti
razão, o dogmatismo na sua pior aceção, o abuso da força, impõem-se nos
factos, mas não nos corações, nem nas cabeças. Muitos continuam a pensar?...E,
esperam por uma lei física, como o peso de um pêndulo suspenso sobre uma
lateral, que ao ser solto ultrapassará velozmente o ponto médio da
verticalidade e subirá a lateral contraria a uma velocidade semelhante à da sua
descida.
É
necessário que a consciência da humanidade se vá revitalizando, readquirindo a
sua essência, para que a lei física do pêndulo inverta a atual posição.
A
concepção mágica do mundo falhou no seu aspeto religioso e político.
O mundo
vê com horror os paraísos materialistas transformados em cancros.
Explorou-se
a Natureza sem se pensar ou reconhecer uma sabedoria ecológica, reflexo do
logos quase esquecido de Platão.
Como no
caso do transatlântico “Titanic”, algo falhou e perante a adversidade, o
mundo nascido da ciência e modernidade afunda-se. Voltam de novo os piratas, os
mercados de escravos, os campos de trabalhos forçados, os grupos de
guerrilheiros, fazem-se corridas de paralíticos. Há bonzos Budistas
e padres católicos ateus e comunistas.
Há
anarquistas que rezam todas as manhas.
Vivemos um
diabólico carnaval.
Há um
primeiro mundo, o capitalista, onde todos trabalham e o “ capital “está
feito em papel aceite como riqueza.
Um
segundo mundo, o social – comunista, em desintegração completa.
Um
terceiro mundo, o dos não-alinhados de nome, porque todos estão alinhados, e só
tem em comum a pobreza.
Um quarto
mundo que baseado na fragilidade dos outros três, esta escalando posições
agrupando elementos étnicos desprovidos do que chamaríamos consciência social,
mas muito ricos em crenças, ódios e numa forma de espiritualidade, mais baseada
na higiene e moral de superfície do que em procuras metafísicas.
Manifesta-se
nos olhos da juventude de todo o globo, um novo mundo mágico, irracional e
animista.
Tal como
há 200 anos a metafísica se converteu em física, a psicologia converte-se em
parapsicologia.
Vêem-se
com ceticismo os aparelhos que sulcam as altas camadas da atmosfera e queimam
os escudos de ozono que nos protegem dos raios cósmicos.
As
pessoas com possibilidades fogem das grandes cidades para recriarem o modelo da
velha casa simples, aquecida com lenha e rodeada de campos onde as crianças
possam brincar.
Os
“Safaris “ em África são fotográficos porque a redução da densidade da fauna
bravia é controlada , dentro dos meios de que dispõem os governos africanos.
É
inegável o retorno a volta, a potenciação dos germes que a razão não pode
tratar nem solucionar.
Espiritualidade
e emocionalidade já não são desprezadas, são vistas como aprofundamentos
humanos.
Nasce um
novo humanismo, mas, à diferença do anterior, não é etnocêntrico, já tem
uma tendência para o universal, para o cósmico.
Face ao
que chamamos “ Mito do Neo - Racionalismo “, face aos seus fracassos e
frustrações, emerge uma nova esperança ainda de aparência confusa.
É o
regresso há harmonia da natureza, ao conhecimento do verdadeiro, ao
trabalho individual e coletivo mas não massificante, que conduz a liberdade em
convivência com todos os Seres visíveis e invisíveis. É o desmantelar por morte
natural deste velho mundo repleto de intermediários, de partidos, de
seitas fanáticas, de cruéis revolucionários.
Juntemo-nos
aos que alimentam uma nova esperança, lutemos por um mundo mais humano e justo.
JPF
17/07/2013