Que ninguém hesite em se dedicar à
filosofia enquanto jovem...
Nem se canse de fazê-lo depois de velho...
Porque ninguém jamais é demasiado jovem ou
demasiado velho para alcançar a saúde do espírito.
Quem
afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou...
Ou que ela já passou...
É como se dissesse que ainda não chegou ou que
já passou a hora de ser feliz.
Em primeiro lugar...
Considerando a divindade como um ente imortal e...
... bem-aventurado...
... bem-aventurado...
Como sugere a perceção comum de divindade...
Não atribuas a ela nada que seja incompatível
com a sua imortalidade...
Nem inadequado à sua bem-aventurança...
Pensa a
respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e
imortalidade.
Acostuma-te à ideia de que a morte para
nós não é nada,
Visto que todo bem e todo mal residem nas
sensações,
E a morte é justamente a privação das
sensações.
A consciência clara de que a morte não
significa nada para nós proporciona a fruição da vida Efêmera...
Em querer acrescentar-lhe tempo infinito e
eliminando o desejo de imortalidade.
Não existe nada de terrível na vida para
quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de
viver.
O sábio, porém, nem desdenha viver, nem
teme deixar de viver;
Para ele, viver não é um fardo e não-viver não
é um mal.
Nunca devemos nos esquecer de que o
futuro não é nem totalmente nosso...
Nem totalmente não-nosso, para não sermos
obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza,
Nem nos
desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.
Convém, portanto, avaliar todos os
prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos.
Há ocasiões em que utilizamos um bem como se
fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.
Habituar-se às coisas simples, a um modo
de vida não luxuoso, não só é conveniente para a saúde, como ainda
proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da
vida:
Nos períodos em que conseguimos levar uma
existência rica,
Predispõe o nosso ânimo para melhor
aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da
sorte.
Quando então dizemos que o fim último é o
prazer,
Não nos referimos aos prazeres dos
intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas
pessoas que ignoram o nosso pensamento,
Ou não concordam com ele, ou o interpretam
erroneamente,
Mas ao prazer que é ausência de sofrimentos
físicos e de perturbações da alma.
Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos,
nem a posse de mulheres,
Nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias
de uma mesa farta que tornam doce uma vida,
Mas um exame cuidadoso que investigue as causas
de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude
das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos.
De todas essas coisas, a prudência é o
princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria
filosofia;
É dela que se originaram todas as demais
virtudes;
É ela que nos ensina que não existe vida feliz
sem prudência, beleza e justiça,
E que não existe prudência, beleza e justiça
sem felicidade.
Porque as virtudes estão intimamente
ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.
O prazer é o princípio e o fim de uma
vida feliz.
A morte é uma quimera:
Porque enquanto eu existo, não existe a morte;
E quando existe a morte, já não existo.
- Variante:
A morte, temida como o mais horrível dos males,
não é, na realidade, nada, pois enquanto nós somos, a morte não é, e quando
esta chega, nós não somos.
JPF
JPF
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