PROGRESSO
Deriva do
latim “progrêssus”, que significa a ação de ir para a frente. É uma ilusão dos
sentidos, ébrios de esperança, supor que todo o avanço é sinônimo de
melhoramento e de felicidade.
A
progressão aritmética de 1, 2, 3, 4, etc. não assinala que dois sejam melhor
que um. Se humanizarmos o processo torna-se evidente que tudo dependerá
da qualidade e não do número, pois, só o néscio preferirá que lhe deem duas
pauladas e não uma. E também seria néscio aquele que podendo receber dois
benefícios só quer um, se a natureza dos dois fosse semelhante.
Se
observar-mos, filosoficamente a Natureza, concluímos racionalmente que o
progresso deve ser inteligente, harmônico, global, ecológico,
se pretender-mos que seja positivo. A paragem e até mesmo o recuo,
quando é ditado pela sabedoria, proporciona-nos mais perfeição do que
avançar as cegas. A vida é um labirinto, onde vale mais a precaução que a
paixão. Os milenares mitos de Teseu e o Fio de Ariadne ainda são válidos.
A
história psicológica conhecida do passado humano, mostra-nos uma luta,
mais ou menos exposta, de duas tendências funestas: uma que teme
tudo o que é novo e faz germinar o imobilismo tipo pseudo- religioso ou
supersticioso: a outra, a marcha que os filósofos do existencialismo
denominaram de “fuga para a frente”.
Ambas são
expressões de ignorância, origem do medo e de todas as desgraças do
homem.
A
insegurança faz caminhar o homem, mas também o faz deter-se. Destas
duas opções, vamos analisar a psicológica da Idade Média na chamada “ Bacia do
Mediterrâneo”, berço da Civilização Ocidental.
Derrubado
o mundo clássico encarnado pelo Império Romano, os seus destruidores ou
cúmplices elaboraram um complexo de culpa, que os fez viver pressentindo
um fim do mundo, um juízo final que consideravam eminente.
Por
paradoxal que pareça e seja, este terror, ainda hoje interiorizado por
muitas seitas, põe em conflito a energia com a matéria.
A Idade
Média apresenta-nos o pavoroso espetáculo das mais altas espiritualidades conjugadas
com os materialismos que se dizem metafísicos na crença da ressurreição da
carne.
O
renascimento exprime na sua própria denominação todo um fenômeno de
reconversão, material, psicológico, mental e espiritual.
Mas, o
progresso já não é harmônico como no mundo clássico. Nasce o mito do progresso
permanente. E as justas proporções são deixadas para trás na busca insaciável
de uma felicidade extrapolada de todo o enquadramento cronológico e natural.
O
indivíduo é empurrado pela circunstância a converter-se em multidão. Prevalece
o número sobre a qualidade e a rapidez da marcha sobre a orientação da mesma.
As
máquinas e as novas fontes de energia extra - humanas substituem primeiro as
mãos do artesão, braços e pernas, e depois todo o seu corpo indo até
à materialização do metafísico.
Os cantos
da sereia do conforto, da comodidade, estabilidade, criam a
ilusão do progresso. E quando este não nasce do trabalho, força-se a
natureza e nasce a barbárie do despojo.
Mas, já
não é o despojo controlado e necessário da velha horda, é mais refinado,
subtil e perigoso da exploração dos recursos naturais e humanos sem
prever o preço a pagar por essa exploração. O homem torna-se arrogante,
prepotente e gradualmente vai-se afastando da realidade, do justo, do
bom e do belo.
Assim
desembocamos no século XXI. Como domados monstros pré - históricos de
incomensurável força, as máquinas fazem com que o homem se eleve nos ares,
destrua com uma mão o que mil não fizeram, renegue o seu passado e se
lance no futuro com um salto simultaneamente glorioso e traumático.
O homem
converte-se num super - homem hiperdimensionado. Todos os moldes se
rompem sem ter outros que os substituam eficazmente. O progresso
desorganizado e interminável nasceu.
A
multidão lança os seus tentáculos para a frente e em nome da liberdade
escraviza-se cada vez mais. Para que dois homens chegassem à lua, desviaram-se
milhões ao desenvolvimento, à miséria, à infelicidade. E mesmo os que chegaram
à lua tão-pouco são felizes: o homem confundiu a potencialização dos seus meios
com a potencialização de si mesmo.
Olha
depreciativamente para trás e diz ; “ há dois mil anos um homem não percorria
numa hora mais de 30 km e eu percorro 30.000. Mas não percebe que o (áuriga) de
uma biga romana não era inferior ao atual astronauta, inferior era o veículo e
não o homem.
Face aos
genocídios, holocaustos, exploração e contaminação suicida, não podemos afirmar
que o homem atual seja superior ao de dois mil anos atrás. Parece o mesmo,
porem mais desconsertado e espiritualmente mais pobre ao depender cada vez mais
da matéria que crê governar, mas que pelo contrário, o esta a esmagar.
Progrediu-se
no formal, no ilusório, mas não se impediu que no limiar do século vinte e um,
existam mais de 2.000 milhões de seres humanos vivendo na mais extrema miséria
física e moral. De acordo com o que podemos extrair da história, nunca houve
tantos pobres, tantos famintos, tantos carentes de pão, trabalho e liberdade e
são cada vez em maiores os números.
Os que
gozam de grandes benefícios são cada vez menos, e os que tem paz nas suas almas
quase se extinguiram.
Hoje
enfrentamos a terrível realidade de um mundo encharcado em sangue e lodo.
A célula
fundamental da sociedade, a família, desfaz-se. As nações convertem-se em
meros territórios. Os templos enchem-se de ateus, a idolatria do
progresso indefinido não admite competências.
Quem
reflete e filósofa, é acusado de abominações. Urge deter a fuga para a frente,
antes que os mecanismos de segurança da natureza varram de um só golpe a
presente civilização.
Velhos
livros dizem-nos que isso já aconteceu com outras civilizações que se
equivocaram, cujos erráticos filhos mutados em hominídeos deram inicio a outro
doloroso ciclo de “idades da pedra”, que poderiam ter sido evitado, pois o
Grande Mistério a que chamamos Deus pôs nas nossas almas a chispa do
discernimento que hoje, quase destruído, jaze debaixo das patas da Grande
Besta, criação diabólica que se materializou no século XX.
Ainda
estás a tempo de parar, basta que uma voz interior te diga que entendeste o que
acabas de ler e poderás gritar ao horizonte da história: sou um homem, Deus
existe!
JPF
16/07/2013
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