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terça-feira, 16 de julho de 2013

PROGRESSO



PROGRESSO

Deriva do latim “progrêssus”, que significa a ação de ir para a frente. É uma ilusão dos sentidos, ébrios de esperança,  supor que todo o avanço é sinônimo de melhoramento e de felicidade.
A progressão aritmética de 1, 2, 3, 4, etc. não assinala que dois sejam melhor que um.  Se humanizarmos o processo torna-se evidente que tudo dependerá da qualidade e não do número, pois, só o néscio preferirá que lhe deem duas pauladas e não uma. E também seria néscio aquele que podendo receber dois benefícios só quer um,  se a natureza dos dois fosse semelhante.
Se observar-mos, filosoficamente a Natureza, concluímos racionalmente que o progresso deve ser inteligente,  harmônico, global,  ecológico,  se pretender-mos que seja positivo.  A paragem e até mesmo o recuo, quando é ditado pela sabedoria,  proporciona-nos mais perfeição do que avançar as cegas. A vida é um labirinto,  onde vale mais a precaução que a paixão. Os milenares mitos de Teseu e o Fio de Ariadne ainda são válidos.

A história psicológica conhecida do passado humano,  mostra-nos uma luta,  mais ou menos exposta, de duas tendências funestas:  uma que teme tudo o que é novo e faz germinar o imobilismo tipo pseudo- religioso ou supersticioso: a outra, a marcha que os filósofos do existencialismo denominaram de “fuga para a frente”.

Ambas são expressões de ignorância,  origem do medo e de todas as desgraças do homem.

A insegurança faz caminhar o homem,  mas também o faz deter-se.  Destas duas opções, vamos analisar a psicológica da Idade Média na chamada “ Bacia do Mediterrâneo”, berço da Civilização Ocidental. 

Derrubado o mundo clássico encarnado pelo Império Romano,  os seus destruidores ou cúmplices elaboraram um complexo de culpa,  que os fez viver pressentindo um fim do mundo, um juízo final que consideravam eminente.

Por paradoxal que pareça e seja,  este terror, ainda hoje interiorizado por muitas seitas, põe em conflito a energia com a matéria. 

A Idade Média apresenta-nos o pavoroso espetáculo das mais altas espiritualidades conjugadas com os materialismos que se dizem metafísicos na crença da ressurreição da carne.

O renascimento exprime na sua própria denominação todo um fenômeno de reconversão, material,  psicológico,  mental e espiritual.

Mas, o progresso já não é harmônico como no mundo clássico. Nasce o mito do progresso permanente. E as justas proporções são deixadas para trás na busca insaciável de uma felicidade extrapolada de todo o enquadramento cronológico e natural.

O indivíduo é empurrado pela circunstância a converter-se em multidão. Prevalece o número sobre a qualidade e a rapidez da marcha sobre a orientação da mesma.

As máquinas e as novas fontes de energia extra - humanas substituem primeiro as mãos do artesão,  braços e pernas,  e depois todo o seu corpo indo até à materialização do metafísico.

Os cantos da sereia do conforto,  da comodidade,  estabilidade,  criam a ilusão do progresso. E quando este não nasce do trabalho,  força-se a natureza e nasce a barbárie do despojo.

Mas, já não é o despojo controlado e necessário da velha horda,  é mais refinado,  subtil e perigoso da exploração dos recursos naturais e humanos sem prever o preço a pagar por essa exploração. O homem torna-se arrogante,  prepotente e gradualmente vai-se afastando da realidade,  do justo,  do bom e do belo.

Assim desembocamos no século XXI. Como domados monstros pré - históricos de incomensurável força, as máquinas fazem com que o homem se eleve nos ares, destrua com uma mão o que mil não fizeram,  renegue o seu passado e se lance no futuro com um salto simultaneamente glorioso e traumático. 

O homem converte-se num super - homem hiperdimensionado.  Todos os moldes se rompem  sem ter outros que os substituam eficazmente. O progresso desorganizado e interminável nasceu.

A multidão lança os seus tentáculos para a frente e em nome da liberdade escraviza-se cada vez mais. Para que dois homens chegassem à lua, desviaram-se milhões ao desenvolvimento, à miséria, à infelicidade. E mesmo os que chegaram à lua tão-pouco são felizes: o homem confundiu a potencialização dos seus meios com a potencialização de si mesmo. 

Olha depreciativamente para trás e diz ; “ há dois mil anos um homem não percorria numa hora mais de 30 km e eu percorro 30.000. Mas não percebe que o (áuriga) de uma biga romana não era inferior ao atual astronauta, inferior era o veículo e não o homem. 

Face aos genocídios, holocaustos, exploração e contaminação suicida, não podemos afirmar que o homem atual seja superior ao de dois mil anos atrás. Parece o mesmo, porem mais desconsertado e espiritualmente mais pobre ao depender cada vez mais da matéria que crê governar, mas que pelo contrário, o esta a esmagar.

Progrediu-se no formal, no ilusório, mas não se impediu que no limiar do século vinte e um, existam mais de 2.000 milhões de seres humanos vivendo na mais extrema miséria física e moral. De acordo com o que podemos extrair da história, nunca houve tantos pobres, tantos famintos, tantos carentes de pão, trabalho e liberdade e são cada vez em maiores os números.

Os que gozam de grandes benefícios são cada vez menos, e os que tem paz nas suas almas quase se extinguiram.

Hoje enfrentamos a terrível realidade de um mundo encharcado em sangue e lodo.

A célula fundamental da sociedade, a família,  desfaz-se. As nações convertem-se em meros territórios. Os templos enchem-se de ateus,  a idolatria do progresso indefinido não admite competências.

Quem reflete e filósofa, é acusado de abominações. Urge deter a fuga para a frente, antes que os mecanismos de segurança da natureza varram de um só golpe a presente civilização.
Velhos livros dizem-nos que isso já aconteceu com outras civilizações que se equivocaram, cujos erráticos filhos mutados em hominídeos deram inicio a outro doloroso ciclo de “idades da pedra”, que poderiam ter sido evitado, pois o Grande Mistério a que chamamos Deus pôs nas nossas almas a chispa do discernimento que hoje, quase destruído, jaze debaixo das patas da Grande Besta, criação diabólica que se materializou no século XX.

Ainda estás a tempo de parar, basta que uma voz interior te diga que entendeste o que acabas de ler e poderás gritar ao horizonte da história: sou um homem, Deus existe!

JPF
16/07/2013


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