Obscurantismo Politico e religioso; raiz da crise em que vivemos.
O texto que a seguir vão ler, pese o facto, de ser enquadrado numa visão diferente
do humanismo que defendo, a luz de uma filosofia de vida, diametralmente oposta
a seguida pelos povos, ou se quisermos imposta pelos que das mais variadas
formas subjugaram os povos. É de um grande realismo, razão porque o aproveito,
como uma espécie de diagnóstico, a que no fundo ainda falta a terapia. E é
dessa terapia, que de forma sucinta, irei fazer uma abordagem. E digo de forma
sucinta, porque ao longo deste blogue, em enquadramentos diferentes, tenho
apontado o obscurantismo, como o grande mal das sociedades em que vivemos.
Texto postado na minha cronologia, no FC em 11/10/2012
23/1/2012 17:54, Por Guilherme Alves Coelho - de Lisboa, em O diário
São muitos e variados os tipos e meios de manipulação em que a ideologia
burguesa se foi alicerçando ao longo do tempo. Um dos tipos mais importantes
são os mitos. Trata-se de um conjunto de falsas verdades, mera propaganda que,
repetidas à exaustão, sem qualquer questionamento, ao longo de gerações,
tornam-se verdades insofismáveis aos olhos de muitos. Foram criadas para
apresentar o capitalismo de forma credível perante as massas e obter o seu
apoio ou passividade. Os seus veículos mais importantes são a informação
mediática, a educação escolar, as tradições familiares, a doutrina das igrejas,
etc*.
Um comentário amargo, e frequente após os períodos eleitorais, é o de que “cada
povo tem o governo que merece”. Trata-se de uma crítica errônea, que pode levar
ao conformismo e à inércia e castiga os menos culpados. Não existem maus povos.
Existem povos iletrados, mal informados, enganados, manipulados, iludidos por
máquinas de propaganda que os atemorizam e lhes condicionam o pensamento. Todos
os povos merecem sempre governos melhores.
A mentira e a manipulação são hoje armas de opressão e destruição em massa, tão
eficazes e importantes como as armas de guerra tradicionais. Em muitas ocasiões
são complementares destas. Tanto servem para ganhar eleições como para invadir
e destruir países insubmissos.
São muitos e variados os tipos e meios de manipulação em que a ideologia
capitalista se foi alicerçando ao longo do tempo.
Apresentam-se neste texto, sucintamente, alguns dos mitos mais comuns da
mitologia capitalista.
• No capitalismo, qualquer pessoa pode enriquecer à custa do seu trabalho
Pretende-se fazer crer que o regime capitalista conduz automaticamente qualquer
pessoa a ser rica desde que se esforce muito.
O objetivo oculto é obter o apoio acrítico dos trabalhadores no sistema e a sua
submissão, na esperança ilusória e culpabilizante em caso de fracasso, de um
dia virem a ser também, patrões de sucesso.
Na verdade, a probabilidade de sucesso no sistema capitalista para o cidadão
comum é igual a ganhar na loteria. O “sucesso capitalista” é, com raras
exceções, fruto da manipulação e da falta de escrúpulos dos que dispõem de mais
poder e influência. As fortunas em geral derivam diretamente de formas
fraudulentas de atuação.
Este mito de que o sucesso é fruto de uma mistura de trabalho duro, alguma
sorte, uma boa dose de fé e depende apenas da capacidade empreendedora e
competitiva de cada um, é um dos mitos que tem levado mais pessoas a acreditar
no sistema e a apoiá-lo. Mas também, após as tentativas falhadas, a
resignarem-se pelo aparente fracasso pessoal e a esconderem que acreditam na
indiferença. Trata-se dos tão apregoados empreendedorismo e competitividade.
• O capitalismo gera riqueza e bem-estar para todos
Pretende-se fazer crer que a fórmula capitalista de acumulação de riqueza por
uma minoria dará lugar, mais tarde ou mais cedo, à redistribuição da mesma.
O objetivo é permitir que os patrões acumulem indefinidamente sem serem
questionados sobre a forma como o fizeram, nomeadamente sobre a exploração dos
trabalhadores. Ao mesmo tempo, mantêm nestes a esperança de mais tarde serem
recompensados pelo seu esforço e dedicação.
Na verdade, Marx já havia concluído em seus estudos que o objetivo final do
capitalismo não é a distribuição da riqueza, mas a sua acumulação e
concentração. O agravamento das diferenças entre ricos e pobres nas últimas
décadas, nomeadamente após o neoliberalismo, provou isso claramente.
Este mito foi um dos mais difundidos durante a fase de “bem-estar social”
pós-guerra, para superar os estados socialistas. Com a queda do adversário
soviético, o capitalismo deixou também cair a máscara e perdeu credibilidade.
• Estamos todos no mesmo barco
Pretende-se fazer crer que não há classes na sociedade, pelo que as
responsabilidades pelos fracassos e crises são igualmente atribuídas a todos e,
portanto pagas por todos.
O objetivo é criar um complexo de culpa junto dos trabalhadores que permita aos
capitalistas arrecadar os lucros enquanto distribuem as despesas por todo o
povo.
Na verdade, o pequeno número de multimilionários, porque detém o poder, é
sempre Auto beneficiado em relação à imensa maioria do povo, quer em impostos,
quer em tráfico de influências, quer na especulação financeira, quer em offshores,
quer na corrupção e nepotismo etc. Esse núcleo, que constitui a classe
dominante, pretende assim escamotear que é o único e exclusivo responsável pela
situação de penúria dos povos e que deve pagar por isso.
Este é um dos mitos mais ideológicos do capitalismo ao negar a existência de
classes.
• Liberdade é igual a capitalismo
Pretende-se fazer crer que a verdadeira liberdade só se atinge com o
capitalismo, através da chamada autorregulação proporcionada pelo mercado.
O objetivo aí é tornar o capitalismo uma espécie de religião em que tudo se
organiza em seu redor e assim afastar os povos das grandes decisões macroeconómicas,
indiscutíveis. A liberdade de negociar sem amarras seria o máximo da liberdade.
Na verdade, sabe-se que as estratégias político-económicas, muitas delas planejadas com grande antecipação, são quase sempre tomadas por um pequeno número de pessoas poderosas, à revelia dos povos e dos poderes instituídos, a quem ditam as suas orientações. Nessas reuniões, em cúpulas restritas e mesmo secretas, são definidas as grandes decisões financeiras e econômicas conjunturais ou estratégicas de longo prazo. Todas, ou quase todas essas resoluções, são fruto de negociações e acordos mais ou menos secretos entre os maiores empresas e multinacionais mundiais. O mercado é, pois, manipulado e não autorregulado. A liberdade plena no capitalismo existe de fato, mas apenas para os ricos e poderosos.
Este mito tem sido utilizado pelos dirigentes capitalistas para justificar, por
exemplo, intervenções em outros países não submissos ao capitalismo,
argumentando não haver neles liberdade, porque há regras.
• Capitalismo igual a democracia
Pretende-se fazer crer que apenas no capitalismo há democracia.
O objetivo deste mito, que é complementar ao anterior, é impedir a discussão de
outros modelos de sociedade, afirmando não haver alternativas a esse modelo e
todos os outros serem ditaduras. Trata-se mais uma vez da apropriação pelo
capitalismo, falseando-lhes o sentido, de conceitos caros aos povos, tais como
liberdade e democracia.
Na realidade, estando a sociedade dividida em classes, a classe mais rica,
embora seja ultraminoritária, domina sobre todas as demais. Trata-se da negação
da democracia que, por definição, é o governo do povo, logo, da maioria. Esta
“democracia” não passa, pois de uma ditadura disfarçada. As “reformas
democráticas” não são mais que retrocessos, reações ao progresso. Daí deriva o
termo reacionário, o que anda para trás.
Tal como o anterior, este mito também serve de pretexto para criticar e atacar
os regimes de países não-capitalistas.
• Eleições igual a democracia
Pretende-se fazer crer que o ato eleitoral é o sinônimo da democracia e esta se
esgota nele.
O objetivo é denegrir ou diabolizar e impedir a discussão de outros sistemas
político-eleitorais em que os dirigentes são estabelecidos por formas diversas
das eleições burguesas, como por exemplo, pela idade, experiência, aceitação
popular etc.
Na verdade, é no sistema capitalista, que tudo manipula e corrompe, que o voto
é condicionado e as eleições são atos meramente formais. O simples fato de a
classe burguesa minoritária vencer sempre as eleições demonstra o seu carácter
não-representativo.
O mito de que, onde há eleições há democracia, é um dos mais enraizados, mesmo
em algumas forças de esquerda.
• Partidos alternantes igual a alternativos
Pretende-se fazer crer que os partidos burgueses que se alternam periodicamente
no poder têm políticas alternativas.
O objetivo deste mito é perpetuar o sistema dentro dos limites da classe
dominante, alimentando o mito de que a democracia está reduzida ao ato
eleitoral.
Na verdade, este aparente sistema pluri ou bipartidário é um sistema
monopartidário. Duas ou mais facões da mesma organização política, partilhando
políticas capitalistas idênticas e complementares, alternam-se no poder,
simulando partidos independentes, com políticas alternativas. O que é dado
escolher aos povos não é o sistema que é sempre o capitalismo, mas apenas os
agentes partidários que estão de turno como seus guardiões e continuadores.
O mito de que os partidos burgueses têm políticas independentes da classe
dominante, chegando até a ser opostas, é um dos mais divulgados e importantes
para manter o sistema a funcionar.
• O eleito representa o povo e por isso pode decidir tudo por ele
Pretende-se fazer crer que o político, uma vez eleito, adquire plenos
poderes e pode governar como quiser.
O objetivo deste mito é iludir o povo com promessas vãs e escamotear as
verdadeiras medidas que serão levadas à prática.
Na verdade, uma vez no poder, o eleito autoassume novos poderes. Não cumpre o
que prometeu e, o que é ainda mais grave, põe em prática medidas não enunciadas
antes, muitas vezes em sentido oposto e até inconstitucionais. Frequentemente,
são eleitos por minorias de votantes. Ao meio dos mandatos, já atingiram
índices de popularidade mínimos. Nestes casos de ausência ou perda progressiva
de representatividade, o sistema não contempla quaisquer formas constitucionais
de destituição. Esta perda de representatividade é uma das razões que impede as
“democracias” capitalistas de serem verdadeiras democracias, tornando-se
ditaduras disfarçadas.
A prática sistemática deste processo de falsificação da democracia tornou este
mito um dos mais desacreditados, sendo uma das causas principais da crescente
abstenção eleitoral.
• Não há alternativas à política capitalista
Pretende-se fazer crer que o capitalismo, embora não sendo perfeito, é o único
regime político-económico possível e, portanto, o mais adequado.
O objetivo é impedir que outros sistemas sejam conhecidos e comparados, usando
todos os meios, incluindo a força, para afastar a competição.
Na realidade, existem outros sistemas político-económicos, sendo o mais
conhecido o socialismo científico. Mesmo dentro do capitalismo, há modalidades
que vão desde o atual neoliberalismo aos reformistas do “socialismo
democrático” ou social-democrata.
Este mito faz parte da tentativa de intimidação dos povos de impedir a
discussão de alternativas ao capitalismo, a que se convencionou chamar o
pensamento único.
• A austeridade gera riqueza
Pretende-se fazer crer que a culpa das crises econômicas é originada pelo
excesso de regalias dos trabalhadores. Se estas forem retiradas, o Estado poupa
e o país enriquece.
O objetivo é fundamentalmente transferir para o setor público, para o povo em
geral e para os trabalhadores, a responsabilidade do pagamento das dividas dos
capitalistas. Fazer o povo aceitar a pilhagem dos seus bens na crença de que
dias melhores virão mais tarde. Destina-se também a facilitar a privatização
dos bens públicos, “emagrecendo” o Estado, logo “poupando”, sem referir que
esses setores eram os mais rentáveis do Estado, cujos lucros futuros se perdem
desta forma.
Na verdade, constata-se que estas políticas conduzem, ano após ano, a um
empobrecimento das receitas do Estado e a uma diminuição das regalias, direitos
e do nível de vida dos povos, que antes estavam assegurados por elas.
• Estado menor, Estado melhor
Pretende-se fazer crer que o setor privado administra melhor o Estado do que o
setor público.
O objetivo dos capitalistas é “dourar a pílula” para facilitar a apropriação do
patrimônio, das funções e dos bens rentáveis dos Estados.
É complementar do anterior.
Na verdade o que acontece em geral é o contrário: os serviços públicos
privatizados não apenas se tornam piores, como as tributações e as prestações
são agravadas. O balanço dos resultados dos serviços prestados após passarem a
privados é quase sempre pior que o anterior. Na ótica capitalista, a prestação
de serviços públicos não passa de mera oportunidade de negócio.
Este mito é um dos mais “ideológicos” do capitalismo neoliberal. Nele está
subjacente a filosofia de que quem deve governar são os privados e o Estado
apenas dá apoio.
• A atual crise é passageira e será resolvida para o bem dos povos
Pretende-se fazer crer que a atual crise económico-financeira é mais uma crise
cíclica habitual do capitalismo e não uma crise sistêmica ou final.
O objetivo dos capitalistas, com destaque para os financeiros, é seguir na
pilhagem dos Estados e na exploração dos povos enquanto puderem. Tem servido
ainda para alguns políticos se manterem no poder, alimentando a esperança junto
dos povos de que melhores dias virão se continuarem a votar neles.
Na verdade, tal como previu Marx, do que se trata é da crise final do sistema
capitalista, com o crescente aumento da contradição entre o carácter social da
produção e o lucro privado, até se tornar insolúvel.
Alguns, entre os quais os “socialistas” e sociais-democratas, que afirmam poder
manter o capitalismo, embora de forma mitigada, afirmam que a crise deriva
apenas de erros dos políticos, da ganância dos banqueiros e especuladores ou da
falta de ideias dos dirigentes ou mecanismos que ainda falta resolver. No
entanto, aquilo a que assistimos é ao agravamento permanente do nível de vida
dos povos sem que esteja à vista qualquer esperança de melhoria. Dentro do
sistema capitalista já nada mais há a esperar de bom.
Nota final.
O capitalismo há de acabar, mas se for por ele mesmo isso ocorrerá muito
lentamente e com imensos sacrifícios dos povos. Terá que ser empurrado. Devem
ser combatidas as ilusões, quer daqueles que julgam o capitalismo reformável,
quer daqueles que acham que quanto pior melhor, para o capitalismo cair de
podre. O capitalismo tudo fará para vender cara a derrota. Por isso, quanto
mais rápido os povos se libertarem desse sistema injusto e cruel, mais
sacrifícios inúteis se poderão evitar.
Hoje, mais do que nunca, é necessário criar barreiras ao assalto final da barbárie capitalista, e inverter a situação, quer apresentando claramente outras soluções políticas, quer combatendo o obscurantismo pelo esclarecimento, quer mobilizando e organizando os povos.
(*) Os mitos criados pelas religiões cristãs têm muito peso no pensamento único
capitalista e são avidamente apropriados por ele para facilitar a aceitação do
sistema pelos mais crédulos. Exemplos: “A pobreza é uma situação passageira da
vida terrena.” “Sempre houve ricos e pobres.” “O rico será castigado no juízo
final.” “Deve-se aguentar o sofrimento sem revolta para mais tarde ser
recompensado.”
Lido e analisado
o texto, como
acima referi, algo esta a faltar! Eu não utilizaria… ou apontaria o dedo ao
capitalismo, mas sim ao obscurantismo, gerador de muitos ismos. Em detrimento
de um humanismo, esclarecedor,
convergente, que une, liga todos os povos em torno de um ideal comum: FRATERNIDADE AMOR E VERDADE. Só este
sentimento generalizado, servirá de terapia para derrubar o obscurantismo e os
muitos ismos que existem na terra. Mas para isso o homem precisa de se conhecer
a si próprio, de saber quem é, e para tal temos de recorrer a conhecimentos que
nos antecederam, de que nos desviaram, e cruza-los com estudos atuais. O homem
precisa de saber que não é um mero contentor físico, mas sim um ser do cosmos,
que temporariamente passa pela terra. Não para se aperfeiçoar como homem, mas
como um ser espiritual, nos caminhos do cosmos.
O homem precisa de saber, que o Deus dinheiro que
elegeu esta errado, o corpo desintegra-se, o espírito segue, e o dinheiro fica.
Os mais atentos sabem, que as fortunas acumuladas, de
meia dúzia de homens na terra, supririam a crise actual e acabariam com a fome
e miséria que grassa por esse mundo.
Os mais atentos sabem, que o país mais pequeno do
mundo, a custa dos povos e em nome de Deus, se transformou no mais rico do
mundo.
O mal está no Deus errado que o homem escolheu, que o transformou
em lobo do homem.
Como se combate esse mal e neutraliza esse Deus?
Desenterrando os conhecimentos que nos esconderam,
cruzando-os com estudos atuais, elevando o homem a sua real qualidade de ser integral,
do cosmos.
Consciencializando o homem, de que todo o homem é seu irmão,
independentemente, de raças e cores.
Apontando-lhe um Humanismo Universal como sentido
convergente, unificador, único.
Hoje dispomos de tecnologias em comunicações avançadas,
há que utilizar essas tecnologias, apontando os erros, mas também as terapias, que
naturalmente se irão aperfeiçoando.
Una-mo-nos em defesa do homem, apontando-lhe um ideal
comum.
JPF
12/10/12
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